Francisco de Goya nasceu em 30 de março de 1746, e sua vida é uma singular aventura criativa. Ele representa a modernidade porque vive o seu tempo com absoluta entrega e generosidade.
Tudo se desenvolveriam em uma ëpoca de extremada convulsâo social, cultural e polìtica. Na passagem do sëculo XVIII para o XIX, Espanha, Europa e Amërica viveriam profundas transformaç§es e mudanças nas suas estruturas fundamentais, e consolidaçâo de um novo estado de ser e entender o mundo, o mundo da modernidade. Entre os anos 1746 e 1828, datas essas que demarcam a vida de Goya, e que iriam também suceder acontecimentos de significado especial para a história da humanidade, e, em particular, do mundo ocidental.
A publicaçâo de L'Enciclopëdie - 1751-, o processo que levou independència dos Estados Unidos da Amërica e sua Constituiçâo [1787], a queda da Bastilha em Paris e a Declaraçâo dos Direitos do Homem na França (1789), e a execuçâo dos monarcas franceses (1793), o triunfo de Napoleâo frente ao Diretório - 1799 -, e até a guerra da Independència na Espanha (1808), e as sucessivas proclamaç§es de independència na Amërica espanhola e portuguesa - Venezuela e Colombia(1811-1819), Argentina (1816), Mëxico (1821), Brasil (1822) foram fatos relevantea ao trabalho de Goya, influenciados por seus contemporâneos de pintura como Giaquinto, Tiepolo, Guardi, Piranesi, Mengs, Gainsborough, Reynolds, Hogarth, Constable, Turner e Fragonard por exemplo.
Artista inconformado
Sem dövida, a obra de Goya e sua evoluçâo estëtica peculiar foram essencialmente influenciadas por àqueles tempos de profundas transformações. Ele viveu perigosamente sua aventura pessoal e criativa, ou seja, sua dramaturgia existencial singular. Ele contou com a sorte em sua luta terrìvel e desigual pelo futuro e pela modernidade, jogando fora todo o lastro de conformismos ou convencionalismos estëreis. Tanto Goya quanto os acima citados, seres ousados e comprometidos, aventureiros ou valentes, que vivem no limite de suas forças, estâo os artistas, os arquitetos das idéias, os artesâos do pensamento, e criadores de imagens e sensações. Ou seja, todos foram provocadores e terroristas da desordem estabelecida. Seus desenhos e sua pintura mais estremecedores, suas confissões mais ìntimas - Los Disparates, Las Pinturas Negras -, são essas imagens para ninguëm alëm de sua própria sombra de tristeza e melancolia. Não estranho, pois, que muitos dos artistas e criadores mais comprometidos com seus respectivos 'tempos difìceis', sob uma conceituaçâo radical de ser e expressar a 'modernidade', tenham tido como uma de suas referèncias fundamentais a experiència pessoal.
No extraordinário conjunto das obras realizadas por Goya ao longo de seus quase 60 anos ininterrupto de atividade criativa se destacam, por inúmeros motivos, por exemplo a sëries de estampas gravadas. Ao todo, foram catalogadas 270 gravuras, as quais se somam outras 18 litografias realizadas durante sua estada em Bordeaux - França, nos öltimos anos de vida, onde experimentou a entâo revolucionária tëcnica inventada pelo checo Aloys Senefelder. Esse grande número de gravuras e litografias - e a tëcnica magistral aplicada pelo artista - ë realmente único não somente na arte espanhola mas também na europëia.
Nas gravuras de Goya a progressiva experimentaçâo do artista trabalhando de maneira mista e simultaneamente com Água-forte, a Água-tinta - tëcnica que era grande novidade na ëpoca -, e as qualidades e retoques com o buril, a ponta-seca, para conseguir efeitos semelhantes aos idealizados e conseguidos em seus desenhos preparatórios, com tinta e pincel. Porém, seu virtuosismo é alcançado em uma sëries de gravuras como - Los Caprichos, Los Desastres de la Guerra, La Tauromaquia e os Disparates -, onde à precisâo das linhas e do desenho, a obtençâo de massas de grande densidade de preto e cinza, e os efeitos de luz e de sombra aliados ao equilìbrio entre cheios e vazios fazem dessa criaçâo de Goya uma das mais significativas contribuições a arte do seu tempo e por muitos séculos. [AgênciaFM]