Acima de tudo, um educador.
O jornalista José Reis [foto instituto biológico de São Paulo] é considerado um dos pais da divulgação científica no Brasil. Reis, um dos fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no final dos anos 1940, período em que o país viu nascer uma comunidade científica nacional. Como divulgador científico, seu papel foi fundamental, ocorrido entre as décadas de 40 e 60. Uma pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz (COC) está avaliando o papel social dos cientistas naquela época a partir da heterogênea trajetória do médico, que foi pesquisador do Instituto Biológico de São Paulo, editor da revista Ciência e cultura, além de diretor de redação do jornal Folha de S. Paulo.
A divulgação científica feita por José Reis é muito vasta, pois ele conseguia atingir públicos variados. Pesquisadores, na Ciência e cultura, intelectuais, empresários e políticos, na revista Anhembi, avicultores, na revista Chácaras e quintais, além dos leitores dos jornais Folha da Noite e Folha de S. Paulo, que formam um grupo bem diversificado", afirma a doutoranda em história das ciências da saúde Marta Ferreira Abdala, responsável pelo estudo. Essa grande capacidade de comunicação tornou o trabalho do médico fundamental no estreitamento da relação entre os cientistas e a sociedade no momento em que a comunidade científica brasileira começava a se organizar e precisava se mostrar ao público. Pode se pensar que a divulgação tenha sido um braço político desse grupo. Para que os pesquisadores fossem valorizados e o governo percebesse a necessidade de investimento, era preciso deixar os laboratórios e apresentar a ciência à sociedade. Esse movimento se intensificou principalmente entre as décadas de 40 e 60", explica a doutoranda. Graças a isso, o período registrou a fundação da SBPC (1948) e do Conselho Nacional de Pesquisa (1951), embrião do atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A criação deste último foi especialmente importante, porque representou a organização do sistema de financiamento governamental de estudos científicos.
Transformações
Em meio a essa corrente de mudanças e transformações, Reis participava ativamente divulgando a ciência. Em 1947, começou a colaborar para os jornais Folha de S. Paulo e Folha da Noite, do grupo Folha da Manhã, parceria terminada um dia antes da sua morte, com a publicação da última coluna Periscópio, em 2002. Em 1948, fundou a revista Ciência e cultura, exercendo a função de editor até 1954, posto que ocupou novamente entre 1972 e 1986. Sua atividade como jornalista incluiu ainda o cargo de diretor de redação da Folha de S. Paulo, entre 1962 e 1967. Reis teve seu esforço reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em 1975, quando recebeu o prêmio Kalinga de Popularização da Ciência, homenagem concedida a intelectuais e cientistas como o filósofo inglês Bertrand Russel, o escritor inglês Arthur C. Clark e a antropóloga americana Margareth Mead. O jornalista e, acima de tudo, educador José Reis, falecido em 16 de maio de 2002. [Leia mais sobre cultura no blog da Formas&Meios Cultural http://fmcultura.blogspot.com