CIDADE DE SÃO PAULO: 455 ANOS DE DOCES MEMÓRIAS
Viaduto do Chá: = Vale do Anhangabaú Entrada estratégica da cidade, servia de paradas de tropeiros para dar água aos cavalos. Localizado no centro, este é o mais antigo monumento, o Obelisco do Piques, como era chamado em 1814. Por ocasião do Centenário da Independência, em 1922, o local foi reurbanizado pelo arquiteto Victor Dubugras, ganhou estilo art nouveau, com escadas em granito. Até o ano de 1919, ou 20, ao redor da ladeira ainda existiam muitas casas. Atualmente, o obelisco encontra-se em estado de pré-abandono. [Foto: www.oempreiteiro.com.br
O ano de 2004 foi todo dedicado às comemorações dos 450 anos da cidade de São Paulo. Pipocavam comemorações em todas regiões. O tempo não pára. E vieram 453º ... e já estamos comemorando o 455º aniversário da capital paulista e, nada melhor que um pequeno passeio por seu passado. A célula-mãe da grande metrópole teve início no Pátio do Colégio em 1554, onde os jesuítas ergueram as paredes de pau-a-pique da primeira igreja e colégio de São Paulo de Piratininga, que fora construída no final do século XVII, e demolida em 1897 após o desabamento de seu telhado. Renasceu tal como era para preservar a imagem do berço da cidade que, de um simples vilarejo, tornaria-se a 4ª maior cidade do mundo. Porém, não é essa colossal metrópole que inspira saudosos moradores de décadas passadas que cantam-na em prosas e versos. Suas lembranças são valiosas fontes de freqüentes escritos sobre à cidade que até os anos 1800 era ainda um pouco a cidade dos jesuítas e da vila dos bandeirantes.
ICONOGRAFIA DO CENTRO - Piques Praça João Mendes:
São várias as denominações desta praça dentre elas: Pátio de São Gonçalo, Largo da Cadeia, Largo do Tesouro, Largo do Teatro e Largo Municipal. Mas tudo indica que a mais antiga é a de São Gonçalo, dada a existência do templo que data de 1757. No ano de 1784, fora erguída uma construção para funcionamento do Paço Municipal e da cadeia, daí os outros nomes. Ali fora inaugurado oTeatro São José, em 4 de setembro de 1864, mas um grande incêndio o destruiu, e, com o ocorrido, o local passaou-se a chamar Largo do Teatro. Lá permanecia localizado um grande sobrado que pertencia ao jurisconsulto e abolicionista, Dr. João Mendes de Almeida, que justamente empresta seu nome à praça.
Convento de São Francisco:
A 17 de setembro de 1647, em terreno doado pela Câmara da Vila de São Paulo, foi inaugurado o convento de São Francisco, da ordem dos frades menores. Em 1683 decidiu-se pela demolição da pequena igreja e a construção de uma maior, reinaugurada como Imaculada Conceição. Com paredes em taipas, a igreja vem resistindo à ação do tempo e da poluição do centro da cidade. Ao visitá-la nota-se a imediata beleza de seus altares e painéis todos folheados a ouro 23 quilates. No altar da capela da Imaculada Conceição está até hoje os retábulos [painéis] originais, provavelmente de Luiz Rodrigues Lisboa, que data de 1740, e é uma das mais importantes obras do renascimento barroco religioso brasileiro. O jazigo da igreja é uma sala bem visitada, com 24 túmulos, sendo que um deles contém os restos mortais do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, que pertenceu à ordem.
Avenida São João:
Descida do Açu, Rua do Zuniga, Rua do Tanque do Zuniga, a São João, naquela
época já era uma artéria movimentada que ligava o centro aos Campos Elíseos, e a rua São Bento e 15 de Novembro, as mais badaladas misturava o barulho do bonde ao das confeitarias finas. A vida moderna tinha chegado para ficar. A verdadeira vocação à metrópole é algo que vem de berço. A cidade que não pára de crescer, nos faz acreditar que a cada momento, em qualquer ponto da cidade, parece que todos acabamos de chegar. A São João foi o celeiro da boêmia paulistana; cinemas, boates e bares etc. A avenida é uma via de importância ímpar desde os primórdios da cidade.
Rua São Bento:
A São Paulo de 1900 marcou pela elegância, os bondinhos e suas casas comerciais que tornariam-se tradicionais. Os barões do café habitavam à região, e suas esposas freqüentavam a antiga rua do Príncipe - atual XV de novembro, Direita e a própria São Bento. Boutiques, confeitarias e o Mappin Store eram os locais preferidos dos grã-finos. A rua que já se chamou Martin Afonso, teve como morador ilustre Amador Bueno da Veiga, provedor da capitânia e aclamado rei dos Paulistas.
O Edifício Martinelli: [Foto Maurício Cardim]
Quando desembarcou no porto de Santos, em 1889, o imigrante Giuseppe Martinelli trazia, para iniciar uma das maiores fortunas do Brasil na República Velha, um diploma de Belas-Artes e a pratica comerciante, prática que a usou para ficar rico - dono de bancos, estaleiros, companhia de navegação, construtora, minas de carvão e ferro e salinas. O primeiro arranha-céu da cidade , o Martinelli, foi construído na década de 20 - 1925 e 1929, com dois mil metros quadrados, na esquina da avenida São João com a São Bento, e a seu tempo o maior edifício da América Latina. O prédio tem 26 andares normais, e mais três no terraço - chamados de "casa do comendador", e um subsolo e um total de 48.438,41 m2 de área construída em alvenaria de tijolos sobre estrutura de concreto. Para construir o prédio foram utilizados materiais importados, como mármore de Carrara e o cimento rosado da Suécia. Martinelli cuidou desde o traçado original à fiscalização da obra. De ponto sofisticado nos anos 30, entrou em decadência no início dos anos 50 e transformou-se em cortiço. Em 1977 e 79 foi restaurado.
Avenida Paulista:
Uma via aristocrática dos barões do café, do comércio e da indústria, cheia de mansões de estilos diversos e com um "ar puro de montanha" - 900 metros de altitude. Antes de ser a Avenida Paulista, fora uma trilha de boiadeiros e Rua da Real Grandeza. Os terrenos onde fica a avenida foram adqüiridos em 1890 pelo engenheiro uruguaio Joaquim Eugênio de Lima, para um empreendimento imobiliário. Foi por iniciativa do engenheiro Eugênio de Lima que nasceu em 8 de dezembro de 1891 a mais importante via pública da cidade. Em 1916, era um boulevard admirado pelos visitantes. Manifestaçãoes como o corso - princípio do carnaval paulistano-, corrida de automóveis realazavam-se lá. Atualmente, greves, parada gay, e a passagem de ano novo tem a avenida como palco. Porém, até 1940, predominavam mansões de ricos negociante, imigrantes e fazendeiros de café. Apenas a Casa das Rosas [1935] e a Escola Rodrigues Alves - 1919, e o Instituto Pasteur de 1903 permanecem. O nome da avenida foi uma justa homenagem aos nativos e os que aqui residem. Em constante mutação, sua história é inspirada em grandes avenidas européias.
LUZ A Estação da Luz foi inteiramente trazida da Inglaterra e montada peça por peça, e próxima ao bairro nobre dos Campos Elíseos, o primeiro bairro da cidade onde foram morar as famílias de grandes posses. O jardim com suas lâmpadas de arco e seu paisagismo francês, era um bucólico pedaço de mundo onde passeavam cavalheiros de polainas e senhoras vestidas da cabeça aos pés por grifes de Paris. Em 25 de janeiro de 2004, o governador Geraldo Alckmin, reinaugurou a velha estação após passar por reformas internas e externas.
Largo do Paissandu:
Com três denominações, Praça das Alagoas, Tanque do Zuniga, 1841-, e em 1868, já na planta de Carlos Rath, figura como Largo do Paisandu. Estabelecimentos tradicionais como o restaurante Carlino - 1881- 2002 -, a Padaria Central, e o atelier de coletes das irmãs Russo davam ares importantes ao largo. Mas, talvez tenha sido o Rinque de patinação, mais tarde transformado em Moulin Rouge-, que tenha representado algo de mais importante para essa região. Seu estilo café-concerto era inspirado nos cafés parisienses. Um dos personagens mais conhecidos, Garibaldi, um italiano de longas barbas, paciente e amigo de todos, transportava em seu táxi os freqüentadores noturnos da boêmia paulistana, principalmente, os bêbados e os "casais" formados em momentos. Com suas bancas de flaores, cinemas, restaurantes da moda, o paissandu reafirmava ser ponto de encontro obrigatório. Nenhum lugar gerava tanto burburinho e circulação intensa. Portanto, pessoas e veículos, deram desde o século 19 um sentido a este Largo. Tanto que o poeta-escritor Mário de Andrade, em seu poema-testamento, cita-o como local escolhido para enterrar a parte mais enigmática de seu corpo. O primeiro Viaduto do Chá foi construído pelo litógrafo franco-brasileiro Jules Martin, dono de oficina na Rua São Bento. A construção ligava o centro - o morro do Chá -, aos outros bairros, e foi Aprovada em 1877. Logo surgiram as primeiras dificuldades, a proprietária discordava da demolição inteira ou parcial do sobrado que possuia na Rua Nova de São José, atual Líbero Badaró. As obras iniciaram-se apenas em 1888 -devido demanda judicial-, e fora comemorada com uma grande festa. Ali localiza-se o solar da baronesa de Tatuí, que de tão grande, suas paredes confrontavam com a ladeira do Açu, Rua Formosa, e para o atalho que hoje chama-se Rua Direita. Somente em 1889 tornara-se possível construir o viaduto que fora inaugurado, no dia 6 de dezembro de 1892, pelo governador Bernardino de Campos. No piso, largas tábuas de pinho do Paraná. A parte metálica veio toda da França. Com enorme vocação para cobranças de taxas, logo criaram uma para quem quisesse atravessar o viaduto teria de pagar 60 réis. Somente com a construção do Teatro Municipal, na década de 20, a cobrança do pedágio foi extinta. Duas vêzes remodelado, e, entre todos os viadutos paulistanos, é ele o que mais se identifica com a história da cidade.
Barão de Itapetininga: A baronesa de Tatuí casara-se com um cadete conhecido pelo nome de cadete Santos, Jooaquim José dos Santos-, ele então grande proprietário, capitalista, e o verdadeiro dono de todo aquele pedaço de São Paulo. Toda colina do Chá era dele. Como conseguiu as terras ninguém sabe. O que se sabe é que no ano de 1864 acabou sendo agraciado pelo Imperador com o título de Barão de Itapetininga. Depois da renhida demanda, acabaram invadindo a chácara do cadete, afim de que lá fosse construído um inadiável melhoramento. Daí o nome da rua.
Teatro Municipal: O prédio mais suntuoso da cidade, o Teatro Municipal foi inaugurado em 12 de setembro 1911, uma terça-feira com a representação da Ópera 'Hamlet' pela companhia de Tita Rufo. A Comissão Construtora, sob direção de Francisco Ramos de Azevedo, 1851-1928-, e Cláudio e Domiciano Rossi, cenógrafo-decorador e arquiteto respectivamente. O teatro passou por várias reformas, teve toda acústica e sistema elétrico trocados em 1952. O terreno pertencia ao coronel Antônio Proost Rodovalho, e fora desapropriado por 694 contos de réis. [Francisco Martins / Fausto Visconde]