Ela não quis escrever em suplemento feminino, e sim no caderno masculino de o “Última Hora”
Nascida Adalgisa Maria Feliciano Noel Cancela Ferreira, em 29 de outubro de 1905, no Rio de Janeiro. O sobrenome Nery que lhe fez conhecida como jornalista, poetisa e política, ela herdou ao se casar aos 16 anos com o pintor Ismael Nery, de quem ficou viúva aos 34 anos. Já conhecida, publicou seu primeiro poema em 1937 na Revista Acadêmica. No mesmo ano lançaria o primeiro livro "Poemas", organizado por Murilo Mendes para editora Pongeti. A partir dessa época Adalgisa Nery começa a colaborar na imprensa carioca. Inicialmente em revistas literárias, depois na revista "Diretrizes", 1938, fundada por Samuel Wainer. Nesse período estava casada com o todo poderoso Lourival Pontes, diretor do DIP "Departamento de Imprensa e Propaganda". Na redação de "Diretrizes" travou conhecimento com nomes de peso como Astrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB {Partido Comunista Brasileiro} e com Graciliano Ramos. A bela Adalgisa escrevia textos interessantes, mas o fato de ser casada com Pontes, naturalmente, valorizou sua presença na redação de "Diretrizes", e de algum modo, oferecia à revista algum tipo de segurança. Porém, sua consagração de jornalista viria quando de sua passagem em "Última Hora" também de Samuel Wainer. Sua coluna no jornal "Última Hora", "Retratos sem retoque", publicada de 1954 a 1966, fez dela uma jornalista combativa e de prestígio popular. O resultado de tal prestígio: três eleições sucessivas para Assembleia Constituinte do Estado da Guanabara.
Briga com Chatô
Com artigos de denúncias comprou briga com um de seus melhores amigos, o dono do Diários Associados, Assis Chateaubriand, cujo grupo consistia em: 35 jornais, 19 revistas, entre as quais "O Cruzeiro", 25 emissoras de rádios, 18 de televisão e duas agências noticiosas. Chato, havia sido eleito senador por seu estado natal, Paraíba, em 1952, sendo reeleito em 1955 pelo Maranhão, através de uma manobra engenhosa que culminou na renúncia do senador legitimamente eleito Alexandre Baima. Contra tal manobra, AN deflagrou um artigo intitulado "Arranjos Políticos", que questionava a candidatura de Chateaubriand pelo estado do Maranhão depois de ter sido derrotado na Paraíba. A tramóia foi atribuída ao ardil político maranhense Vitorino Freire. Adalgisa perguntava "Gostaria de saber se o Maranhão é casa-da-mãe-joana? Os insultos entre os dois foram parar com grande destaque nas página de "Time Magazine", de 7 de fevereiro de 1955 com as fotolegendas " Poetess Nery and Press Lord Chateaubriand". A fúria do dono dos Diários Associados gerou uma série de atos de solidariedade à jornalista, o mais importante um almoço no Clube da Aeronáutica, com presença das três Forças Armadas.
Demissão /vingança
Sua coluna " Retratos sem retoque" continuava a destilar denúncias. Dessa vez, a briga seria com o jornal Correio da Manhã - fundado em 1901, e encerrada atividades em 8/7/1974 -, em uma de suas crônicas sobre o petróleo, ela desagradou seu amigo Paulo Bittencourt, ao dizer que o jornal tinha uma lista negra. Parecia que, nenhum, por mais poderoso que fosse escapava das ironias e cobranças de AN. Comprou outra briga com adversário de peso. Dessa vez, em 18 de fevereiro de 1955, era com o General Juarez Távora que tinha lançado sua candidatura à presidência. Ela questionou uma declaração do general que dizia jamais ser candidato à Presidência da República e também o fato de os cartazes de propaganda política do general, que sugeria um sinal de silêncio. Sua verve denunciante seguia com Otávio Mangabeira, deputado federal e ministro das relações exteriores, de 1926 a 1930 e governador da Bahia, 1947-1951.
O artigo intitulado "Mangabeira, Selassiê e Beijos" lembrava com ironia o imperador africano. Tanto fez, que seu último artigo para "Retratos sem Retoque" não podia terminar sem polêmica. Dessa vez ela era a protagonista reclamante. Ao ser demitida, teve de acionar o jornal Última Hora para ter seus direitos reconhecidos. Por fim, em 27 de maio de 1963 o jornal atestava em carta que Adalgisa Nery era colaboradora do mesmo de novembro de 1954 a 1957. Mas AN ganhou a parada, na junta de Conciliação, consta que, ela foi admitida em 4/11/1954 e demitida em 30/11/1966. Adalgisa saiu de cena quando foi cassada como deputada pela Guanabara, por suposto ato de vingança do Almirante Augusto Rademaker, em 1969. O artigo sobre o almirante, ela investigava a compra de tintas superfaturadas da Marinha, esquema comandado Rademaker. {Francisco Martins}