Formas&Meios: Francisco Martins faz entrevista exclusiva com Tarcísio Arruda Paes, um dos maiores Clarinetista do País.
Tarcísio José de Arruda Paes, nasceu em berço de tradicional família de músicos. Filho do flautista José Leonardo de Arruda Paes, muito cedo deu início aos estudos musicais e vocacional, com o seu primo e padrinho, o lendário maestro Luiz de Arruda Paes. Realizou estudos na Fundação Escola Municipal de Música, em São Paulo. Entre seus professores estão Leonardo Righi, clarinete, e Teoria e Solfejo com Francisco Pezzella, Sax com o Maestro Armando Campagnini, Olivier Toni, Samuel Kerr, João Dias Carrasqueira entre outros. Fundou diversas bandas, com músicos consagrados no Brasil, tais como: Jazz Band Ball, Royal Jazz Band. Participou das conceituadas bandas São Paulo Dixieland, New Orleans Jazz Band, Hot Line Jazz Band. Em CD gravou com André Busic, Hector Costita, Royal Jazz Band. Atuou ao lado de verdadeiras lendas do mundo musical como Dom Salvador Eder Sandolli, Ronie Stella, o Maestro Fernando Tancredi (Jazz Sinfônico). Fez duetos com Luiz Chaves, Pixinguinha, Elcio Alvares Laércio de Freitas, Amilson Godoy entre outros. Em maio de 2009, gravou trilha sonora composta por Edson Tobinaga, para peça 'O Espírito das Coisas', baseada em textos da extraordinária poetisa Hilda Hilst. Na entrevista ele fala sobre atualidades musicais, suas influências no Brasil e no exterior além da falta de conhecimento de alguns contratantes.
Formas & Meios: Apesar de ter iniciado os estudos musicais muito jovem, você pensou em seguir outra profissão que não a de músico?
Tarcísio de Arruda Paes
: Para vencer os desafios da vida e ter uma família com 48 anos de casamento, 3 filhos com formação superior sendo a mais velha Ana Maria, assistente social da Vara da família, deu-me uma neta, e formada pela PUC. Prof.Tarcisio José Jr, Odontologista, titular Faculdade Unesp de S.Jose dos Campos, deu-me um neto e uma neta, e finalmente, Paulo Cessar, Farmacêutico bioquímico, Drogasil, casado também, sem filhos. Com 5 multinacionais, também logrei êxito em cada uma das atividades, nas empresas. Vocês sabem que o musico observa os detalhes mínimos da nomenclatura musical e isso vale para o universo da musica, e dos sistemas das Pessoas Jurídicas.
F&M: Clarinete e Saxofone, foi uma escolha sua ou teve a influência de seu pai e de seu primo Luizinho?
Tarcísio Arruda Paes
: Foi pessoal, intuitiva. pois o Clarinete, por sua sonoridade, que atende a audição semelhante a voz humana, nos seus registros, veio a ser escolhido com prioridade. As influencias, assimilei de Benny Goodman, Art Shaw, o Budy de Franco, meu Professor Erudito Leonardo Righi, Paulo Moura, Nabor Pires de Camargo, Fernando Tancredi, David Gleiser do quinteto de N.Y, e tantos outros. O Saxofone, veio por osmose, por assim dizer, pois quem conhece o Clarinete, tem facilidade em tocar o Sax, o inverso, torna-se mais difícil, mas não impossível.
F&M: Você é bastante confundido com seu primo-padrinho, o maestro Luiz Arruda Paes, da TV Tupi. Isso gera algum desconforto ou satisfação para você?
Tarcísio Arruda Paes:
De meu querido primo e padrinho de batismo, por reuniões de saraus na casa de meu pai, desde criança, recebi influencias, pois os músicos da Rádio Gazeta, frequentemente, estavam em diversas formações tocando, os arranjos do então pianista da Rádio Tupi. A distancia da capacidade que Luizinho tinha é muito grande. Eu sou apenas um músico comum. O dom que Deus legou ao Maestro Luiz Arruda Paes foi muito marcante na música do Brasil e do mundo. Difícil foi para mim ter o mesmo sobrenome, para sobreviver na música. Se eu adotasse o sobrenome italiano da minha mãe, BIFFI, talvez tivesse sorte no cenário musical de São Paulo. Satisfação e orgulho por ter passado momentos musicais com ele e a família, pois tanto o meu tio Lázaro, pai do maestro tocava flauta como papai Juquita também, e minha tia Delfina, mãe do Maestro tocava violino, e a Toninha, esposa do Maestro tocava Baixo Elétrico, minha irmã Terezinha, tocava piano todos amadores. Tudo o que se podia sentir, era amor a música. Foi muito especial. Luiz Arruda Paes é inconfundível, eu considero o melhor arranjador de todos os tempos, junto com Radamés Gnatalli, Guerra Peixe, Migliori, Ciro Pereira, Sílvio Mazzuca, Osmar Milani e tantos outros.
F&M: Quando e onde aconteceram suas primeiras gravações e apresentação?
Tarcísio Arruda Paes:
Na Escola Municipal de Música, quando aluno, no Museu de Arte de São Paulo, com quinteto de Sopros, com Orquestra, e duo piano e clarineta recentemente na Fiesp/Ciesp da Av. Paulista, junto com o pianista Carlos Roberto de Oliveira, este sobrinho do consagrado e internacional, pianista Dom Salvador. Com a Hot Line Jazz Band do André Busic, os 2 CDs Sweet and Hot. Também, gravação para comemorar o centenario do Conservatorio Dramatico e Musical de S.P. Composições do pianista e compositor Yves Rudner Schimdt, membro da Soc.Bras. de Musica Contemporanea.
F&M: Muitos profissionais se queixam da falta de reconhecimento da música instrumental brasileira no próprio país, e que no exterior o músico é mais reconhecido. Você concorda com isso?
Tarcísio Arruda Paes:
O campo ficou muito restrito, com o advento de DJS, formações robustas de conjuntos e orquestras de todos os estilos, ficaram limitados a poucos espaços e trabalhos duradouros tanto no Rádio e TV, que foram dizimados. Baladas parecem ser mais interessantes aos jovens. O passado dos grandes compositores mundiais servem de veículo para somente os músicos profissionais praticarem e se valerem do grande acervo consagrado de temas maravilhosos em todos os estilos. Diversos colegas foram reconhecidos e consagrados fora do Brasil.
F&M: Apesar de ter uma sólida carreira no Brasil, alguma vez você cogitou fazer o caminho de alguns colegas seus exemplo Dom Salvador, que reside e toca nos Estados Unidos da América há 32 anos?
Tarcísio Arruda Paes:
Foi um grande sonho, que afastou-se e permanece até hoje.
F&M: Mais ou menos nos últimos vinte anos o Brasil foi tomado por mazelas como 'música' de baixa qualidade, jabá, etc... Você acha que isso ainda pode ser mudado e que o artista talentoso venha ocupar o devido espaço, não precisar pagar para tocar no rádio?
Tarcísio Arruda Paes:
O artista precisa estar no lugar e hora certa. Tantos valores foram desfigurados. Se tiverem QI, (quem indicou) ou parente de político, talvez possam consagrar-se.
F&M: Qual a principal dificuldade que o músico brasileiro enfrenta no momento, seriam a música mecânica vinda dos toca discos dos DJ’s ou o poder financeiro de grupos musicalmente fracos ?
Tarcísio Arruda Paes:
Tudo isso, e a falta de conhecimento de quem os contratam.
F&M: Diplomado em harmonia e solfejo com médias 9,5 e 8,5. Como é para você ter de ouvir grupos ou cantores que desafinam até falando?
Tarcísio Arruda Paes
: Fico indignado, por quem os apresentam, condicionando o publico cada vez mais a receber influencias sem substancia e bons costumes sem poderem conhecer toda riqueza da música e seu universo. Sofro e não escondo quando a todo momento isso acontece. Uma vergonha!
F&M: Na última década, o músico erudito vem alcançando boa remuneração em orquestras ou sinfônicas, pode viver só de música. Você já precisou trabalhar em algo que não fosse a música para honrar seus compromissos financeiros?
Tarcísio Arruda Paes
- Sim sempre, como outros colegas. Fui buscar em multinacionais, em quase 35 anos de batalha muito dura, com uma aposentadoria muito insignificante. Portanto, não posso parar!
F&M: Você fez master classe com o renomado professor David Gleiser, respeitosamente considerado Maria Callas de calças por sua exigência. Como foi ficar frente a frente com um mito?
Tarcísio Arruda Paes:
Em poucas palavras, você recebe informações de uma maneira objetiva e direta, sem falsas alegorias.
F&M: Qual a maior herança que carrega consigo de Luiz Arruda Paes e do seu pai José Leonardo Arruda Paes?
Tarcísio Arruda Paes:
Honestidade e respeito pelo semelhante.
F&M : Quem mais lhe influenciou musicalmente no Brasil e no exterior?
Tarcísio Arruda Paes:
Paulo Moura, Fernando Tancredi, Case, Bolão, Vítor Assis Brasil, Proveta, Paulo Sérgio Santos. No exterior Paul Desmond, Phill Woods, Kenny Davern, Benny Goodman, Artie Shaw , Edmund Hall, Barney Bigard, Paquito Rivera, Bob Wilber, Al Gallodoro. Alfonse Picou. Sidney Bechet. Mais de uma tonelada, que não caberia nas paginas.