
Dia de ano é o primeiro de janeiro, dedicado à Fraternidade Humana e, na Igreja Católica, votivo à circuncisão de Jesus Cristo. Cita-se, vez por outra, também como Dia de São Silvestre, que é realmente o dia 31 de dezembro. São Fulgêncio, Bispo de Ruspina, e Santa Eufrosina de Alexandria, solitária do Egito, são os santos do dia primeiro de janeiro. É mais ou menos como na Noite de Natal, Noite de Festa, de comemoração doméstica, mas aos poucos nas cidades grandes, a vida social encarregou-se de festejá-la nas sedes de clubes e associações elegantes, com bebida à meia-noite e mesmo o Hino Nacional, entre barulheiras e gritos que devem anunciar todos os benefícios, exceto a tranquilidade, porque esta não pode ser invocada aos berros e sopros de buzina atroadora.
Porém, um elemento resiste, batido pela violência das culturas unitárias que vai tentando cobrir, lenta ou rapidamente, a paisagem típica das civilizações nacionais. Esse elemento é o cuidado, a preocupação dos atos que não desejamos ver repetidos no resto do ano. O que se fizer no primeiro de janeiro será a antevisão, profecia, o programa para os demais dias. Naturalmente, a tradição nos veio com o português no século XVI. Ameríndios e negros africanos não tinham crença alguma relativa ao Ano-Novo, e sim as festas dos ciclos agrários, cerimonial ligado à semeadura ou colheita dos frutos, ou propiciativas da caça e pesca. Portugueses e espanhóis, mantendo o respeito costume, trouxeram-no para as terras da América, guardando-o e espalhando-o pelo uso. Quatro séculos e meio depois, ainda a tradição vive, mesmo nas cidades, mantida numa porcentagem mínima nos arranha-céus, mas seguida e poderosa nas populações do interior de todas as províncias do Brasil.
Muito cuidado com o Dia do Bom-Ano ! Obstinar-se-á em dar-vos a multiplicação dos atos praticados durante suas vinte e quatro horas oblacionais. Alegria no primeiro de janeiro? Um ano jubiloso. Se cóleras, doze meses em raiva flamejante. Tristeza? O restante será melancólico. Serenidade? Os dias passarão tranquilos e doces. Materialmente, o prognóstico é idêntico para as causas fungíveis. Uma roupa nova, um calçado recém-comprado, maior recurso financeiro são, no primeiro dia de janeiro, anúncios talvez infalíveis da conservação ou multiplicação destas entidades no período anual. Corre uma tradição pela Europa, entre latinos e saxões, "If a new suit or dress has money in pockte, they will not be empty throughabout the year", segundo Radford. { Com um paletó ou uma roupa nova o bolso não ficará sem dinheiro através do ano – {tradução livre}
Já J. Leite de Vasconcellos e A.C. Pires de Lima informam semelhantemente em Portugal: " O que se fizer no Dia de Ano-Bom faz-se todo ano". Assim, come-se bom jantar, dá-se um passeio para que o mesmo possa continuar durante ao longo do ano. Trazendo-se uma roupa nova no Dia de Ano-Bom continuará trazer-se pelo ano adiante. É por isso que se anda nesse dia com roupa nova . Não é bom dar esmola, dinheiro, nessa dia pois passa-se o ano inteiro a desembolsar dinheiro, não guarda nada. Fica bem claro, não se esta expondo o Dia de Ano-Bom em suas comemorações, festas e permutas de presentes, mas unicamente num determinado aspecto, tentando indicar sua indiscutível origem.
"Em 1958 testemunhei essa poderosa presença da tradição. A senhora de um amigo meu, diplomada pela Escola Normal, viajada, inteligente viva, não despediu uma criada porque o dia era primeiro de janeiro. Não desejava passar o resto do ano despedindo empregadas", conta Câmara Cascudo.
"Outro amigo, pernambucano residindo em linda casa em Recife, retardou a terminação de excelente negócio para concluí-lo no Dia de Ano-Bom "correndo risco" de vê-lo arrebatado por concorrente mais atrevido e hábil. Esses pequeninos fatos ocorrem por todo território nacional. Cada ano a sua observância determina respeito e atitudes dentro das regras inflexíveis da tradição", afirma Luiz da Câmara Cascudo.
De onde teria nascido o costume ainda fiel na obediência brasileira? Veio de Roma, decorrente de gesto religioso muito mais ligado ao direito consuetudinário que às exigências regulares do culto sagrado. Ovídio, no Fastos, poema registrando o cerimonial religioso na Roma sob Augusto, referindo-se a janeiro, ao primeiro dia, minudência: Sobre a trova de presentes, o deus Janus explica ao poeta:
Mal findou, repliquei -"Que significa"
Este presentearmo-nos com tâmaras,
Encarquilhados figos, e cheiros
Candido mel em barrilinhos alvos?"
- "São presságios, são votos; - me responde
Quer-se que desta sorte auspiciado
Corra sab'roso e doce o ano inteiro".
Aí se inicia o mesmo respeito pela continuidade do que for começado no primeiro dia do ano. Assim os romanos ofereciam frutas doces, mel, as coisas mimosas ao paladar. Esses presentes eram as strenae, determinando reciprocidade entre todas as classes sociais. {Conto subtraído do livro de Luís da Câmara Cascudo "Coisas que o povo diz" }. {Tradução de Antonio Feliciano de Castilho - 1800 - 1875}
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