Mais um conto de Sir Kreubber Grigger Kruger “O Homem do Dente de Algodão”é baseado em um fato real e atual.
Que tal encontrar aquela pessoa para uma azaração legal e, em um beijo ardente, um dente de algodão aparece em sua boca, arghhhhhhh!. Essa é a história verídica do ex-modelo Cleri Carlo, o homem do dente de algodão.
Este conto pode até parecer hilário pelo título mas é pura realidade. Como pode uma pessoa ter um dente de algodão? Por quanto tempo? e Por que? Esta é a história de um modelo de relativo sucesso que ficou sem recurso, e por ironia, um brasileiro, país sem nenhuma tradição no auxílio dentário gratuito. Cleri Carlo, 1,75m, pele branca, paulista de Itatiba, durante os anos 80 foi capa de revistas, fez vários ensaios fotográficos para grifes famosas e frequentava as páginas dos jornais do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, entre outros. No final de 90 foi seu auge na carreira. Na época, o modelo fotográfico não fazia fortuna além de ser visto como pederasta. Cleri Carlo ganhou um bom dinheiro mas gastou da mesma forma. Aos 30 anos, apesar do corpinho de passeio indicar 25 anos mais ou menos, fez sua aposentadoria compulsória.
O modelo e seu calcanhar de Aquiles
Tinha todos os dentes e digamos até uma boa formação dental. Mas, entre um deles a presa esquerda, a quem ele atribuía o seu não sucesso no exterior. Procurou um, dois , três ortodontistas e colocou aparelhos para correção. Em uma época em que era "anormal" um adulto fazer tal tratamento, ele já entrava e saia dos consultórios para tentar solucionar seu pequeno 'defeito', a saliência da presa saltada para fora só um pouquinho. Quase chegou ao ponto exigido. Mas, aquele dentinho safado iria preparar uma pegadinho indigesta para o super-model que, apesar de já aposentado compulsoriamente dos fleches mantinha sua silhueta impecável, aos 32 anos.
Certa noite de inverno, em um chique bistrô paulistano, nos jardins, sua hilariante história tem início. Enquanto aguardava um prato exótico a ser saboreado com um vinho, ao lado de amigos, ele distribuía sorrisos entre grande bocado em uma manteiga feita de búfalo com pãozinho legitimamente italiano ! Quando levou o pão à boca ouviu um estalo. Adivinhem! O dentinho rebelde! Aquele mesmo que ele tentou colocar na posição certa, apodrecera e reescreveria uma nova história em sua vida. O dente quebrou-se rente à gengiva saindo a sua ponta cravada na gostosa fatia de pão que, ao ser retirado, seu desenho perturba à mente dele até os dias de hoje. Cleri Carlo gelou, pois aquele jantar para cinco pessoas estava sendo custeado graças a venda de alguns aparelhos eletrônicos que havia comprado nos Estados Unidos da América, em 89. Ele ficou totalmente sem jeito frente aos amigos. Manteve a pose até o final evitando grandes sorrisos.
Começava de fato o dente de Algodão. Naquela noite ele despediu-se dos amigos como se fosse morrer. Chegou em casa, ligou ao dentista e perguntou qual o valor de um implante de dente. Cleri Carlo viu que estava quebrado e não ia poder fazer o implante. Tomou uma dose de calmante para poder dormir naquela noite e, só depois tentar resolver o problema na manhã seguinte. A lista telefônica era pouca para pesquisar por um preço melhor. Nada feito. Continuava banguela, e logo no seu melhor perfil, o lado esquerdo. Um estalo veio a sua mente – não foi outro dente se quebrando não-, "Vou a um dentista popular e ele certamente colocará um dente de gesso temporariamente", pensou. Não colou. Decepcionado, voltou para casa banguela do lado esquerdo. Sua vida se resumia à frente do espelho: via seu sorriso 'maroto' com o dentinho fujão. Lamentou por todas as vezes que maltratou seu dente com arames, que ainda não eram coloridos!
O gênio
O modelo recebeu um convite para uma festa na casa de uma outra figura que modelava muito bem, e morava na rua Major Quedinho, na Bela Vista, centro de São Paulo, em um belo triplex. Ah! não sei se posso!, fez charminho, mas só ele sabia da verdade. Ficou de responder mais tarde. Vou ou não vou? That’s the Question {Eis a questão}, Vou. Foi para frente do espelho pela milésima vez e começou a pensar. Um dente, eu preciso de um dente, exclamava Cleri Carlo. Uma ideia supimpa penetrou pela vasta cabeleira e atingiu sua massa encefálica. Ele tinha que tapar aquele buraco e só uma solução engenhosa para tal. Bem na sua frente, um cotonete. Isso mesmo, aquele chumaço de algodão que fica na ponta do cotonete que vai no buraco auricular era sua salvação. O dentista popular havia dado uma limpada na borda da gengiva e, cabia ao modelo ser um bom artesão agora. Retirou com cuidado o algodão da cabeça do cotonete e colocou no buraco, ou cratera dentária. Gostou do que viu, perfeito, o chumaço tinha sido feito para suprir seu dente quebrado.
Primeiro incidente
Ligou ao amigo e disse-lhe que estaria presente na festinha. Bolou mais uma resposta caso alguém notasse e perguntasse sobre alguma imperfeição no seu dente. " Fácil, digo que fui ao dentista e ele o deixou provisoriamente assim", ai garoto esperto. Realmente passou em brancas nuvens, batido, foi um sucesso ninguém notou nada. Aguardem! O dentinho aprontaria mais uma das suas rebeldias com o ex-model. Ele estava se sentindo como se tivesse descoberto o macarrão. Depois de alguns meses ausente dos bistrôs e cafés, esticou uma noitada e reapareceu em grande estilo na rua Hadock Lobo, na capital paulistana. Ainda tinha um pouco de grana da venda dos aparelhos eletrônicos. Sentou-se no lugar de sempre e pediu uma garrafa de Bolla Valpolicela. Antes, fez questão de confirmar com o maitre se tinha sua sobremesa preferida "Petit Gato". Claro, Sr. Cleri Carlo, tem sim. Foi ao toilet e certificou-se de que o dentinho de algodão estava firme no local, mais uma vez xuxou o chumaço de algodão com a língua. Sorriu para à direita e para à esquerda e ficou contente com o cotonete, digo com o dente. Voltou à mesa e começou a saborear a refeição, sempre mastigada do lado direito para não correr risco. Risco, isso era o que mais ele corria nas "garras' do dentinho rebelde. Vez ou outra disfarçadamente levava a língua ao lado esquerdo e xuxava para confirmar que o algodão não tinha caído. Mas ele estava prevenido, além de uma dúzia de cotonetes tinha também a ‘ferramenta’ apropriada para colocar o dente de algodão, um lápis de fabricação francesa com uma ponta fina e dura, coisa fina saca orra meu.
Petit Gato
Em uma dessas conferidas com a língua eis que o primeiro incidente ocorre: devido o componente meio caramelado da sobremesa o algodão veio pregado em sua língua. Um homem fino não enfia a mão na boca em pleno bistrô. Pegou o guardanapo com o brasão do restaurante, disfarçou e o pegou delicadamente e levou ao fundo do prato de porcelana inglesa. Pensou, vou até ao toillet e lá coloco um novo 'dente', de algodão. Quando chegou no banheiro, sabe aquele tipo de caras inconvenientes, dois daqueles tipos que ficam dentro do banheiro de frente ao espelho conversando. Foi demais para Cleri Carlo. O tempo não passava. Entrou no box para ganhar tempo porém os dois não arredavam pé. O desespero começou a bater pois havia tempo que estava ausente de sua mesa. Eis que uma fada madrinha lhe deu uma força. Os dois chatos caíram fora. Tomou cuidado para que ninguém visse sua 'invenção protética', digna do Dr. Arnaldo, personagem de Diogo Vilela em Toma lá dá Cá, da Rede Globo de Televisão. Perfeito, exclamou. Pagou a conta e foi abalar corações nos quarteirões das ruas Pamplona e Oscar Freire, só no carão.
Mais incidente
Superado o primeiro incidente com o dente de algodão, ele estava mais confiante com sua agilidade ao enfiar o algodão no buraco do dente. Imagine a cena: você entra em um banheiro e dá de cara com uma pessoa em frente ao espelho retirando o chumaço de algodão da cabeço de um cotonete, pondo uma gota de perfume, francês ou italiano, e o enfia na cavidade dental usando a ponta de lápis, de madeira consistente pois corre o risco da ponta se quebrar e escorregar e ferir a gengiva. Seria demais não. Ele já tinha calculado este risco. Seguro da situação, pegou seu Scort XR3 conversível e foi azarar. Hum, é daquilo ali que estou precisando para me reafirmar, exclamou Cleri Carlo ao ver seu tipo preferido de paquera na Avenida Pedro Álvares Cabral, zona sul da capital paulista. Chegou junto. "Poxa, se sobrevivi a luminosidade dos lustres de cristais vou ficar bem na fita haja vista que está na penumbra aqui", sobrepujou. Claro, e quem em sã consciência resistira ao charme de um cara que modelava muito, Cleri Carlo era o cara, do dente de algodão, mas ainda era o cara!. Abriu a porta do possante automóvel amarelo e mandou a figura cair pra dentro.
O beijo nojento
Amassos vão, carícias veem até chegarem ao fatídico beijo. Antes tivesse pulado essa etapa, os beijos, lamenta-se o modelo. Foi uma humilhação. Língua ali, língua acolá, língua em todo lugar, até que um grito de asco rompe a penumbra e o silêncio do local: que coisa nojenta é essa na minha boca? Gritou a figura. Com o grito, o algodão foi parar em sua garganta. Clerí Carlo tentou contornar: é um pouco de Petit Gato amor, calma é só engolir. Seu porco, nojento por que não escova os dentes depois das refeições. Além do mais anda comendo gato, ai que nojo, buáááááá. Chamou o ‘hugo’ no ato. Vomitou e vomitou muito após ver aquele chumaço em sua boca. “O chão deveria se abrir e ele, Cleri, parar além Japão, pois o episodio chamou atenção dos frequantadores. O mais importante era que ninguém ficasse sabendo do seu segredo, o dente de algodão. Outros incidentes estarão na fila de espera, pois até o dia em que este verídico conto foi escrito, Cleri Carlo, ainda usava dente de algodão, transformando-se em um dos maiores consumidores de cotonetes, para dentes. Atualmente, ele usa um pouco de cola branca, usada em artesanato, e o dente tem uma melhor fixação, o risco é somente o algodão desfiar ao tocar um osso ou o dente de quem irá beijá-lo e, plagiar aquela cena onde dois cães dividem amorosamente um fio de macarrão até tocarem os lábios: vai encarar um pouquinho de algodão e cola!