Chegamos ao mês de junho, o mês das festas juninas.
De norte a sul do país, as festas juninas se espalham pelas casas, escolas, clubes e empresas, enfeitando praças, locais de trabalho e salas de aulas com as coloridas bandeirinhas e seu formato inconfundível. As mesas se enchem de fartura com sabor da roça através dos pratos típicos da época, como bolo de fubá, pipoca, cuscuz, pé-de-moleque e o famoso quentão. Escolas e grupos folclóricos se organizam para preparar as apresentações das quadrilhas ao som da sanfona e das marchas juninas típicas.Vamos ver que essa festa popular, feita pelo povo para o povo, chegou ao Brasil com a aristocracia portuguesa, e foi usada pela Igreja para disseminar suas crenças religiosas.
Origem das festas juninas
Antes de se tornar uma festa em comemoração vinculada aos santos do catolicismo, as celebrações no mês de junho já eram realizadas muitos antes da era cristã. O solstício de verão no hemisfério norte ocorre em 21 ou 22 de junho, quando temos o dia mais comprido e a noite mais curta do ano. Os povos antigos, incluindo as civilizações gregas, egípcias e celtas, comemoravam essa passagem do calendário. Regadas com o calor do fogo e muita bebida e comida, eram celebrações à fertilidade e também para rogar aos seus deuses para que eles trouxessem fartura nas próximas colheitas.
Com a evangelização da Europa na Idade Média, o ritual pagão foi incorporado ao calendário cristão e ganhou um cunho religioso. Isso ocorreu, basicamente, por dois motivos: para facilitar a catequese dos pagãos e esvaziar ideologicamente suas comemorações. Não é por acaso que as comemorações cristãs possuem relação com as principais passagens de tempo. É o caso da Páscoa (que ocorre no primeiro domingo de lua cheia após o equinócio da primavera no hemisfério norte), o nascimento de Jesus (atribuído ao dia 25 de dezembro, logo após o solstício de inverno no hemisfério norte) e o dia de São João (dia 24 de junho, logo após o solstício de verão no hemisfério norte).
Em Portugal, a Igreja dedicou o mês de junho à celebração dos seus santos populares. Santo Antônio de Lisboa (ou Santo Antônio de Pádua) é comemorado no dia 13 de junho, São João Batista em 24 de junho, e São Pedro em 29 de junho.
Essa mistura entre festas cristãs de santos e folguedos pagãos recriam até hoje novas práticas culturais. Os rituais foram trazidos principalmente por portugueses ao Brasil colonial; mas houve a contribuição dos espanhóis, holandeses e franceses, o que deu origem a diversos tipos de celebrações nas diferentes regiões do país. Aqui, elas foram associadas aos rituais do solstício de inverno que também eram comemorados pelos povos existentes com muita festa e comida. A miscigenação étnica entre índios, africanos e europeus fez brotar no país uma série de belas expressões artísticas, como cantorias de viola e cordéis; emboladas de coco e cirandas; xote, xaxado e baião, sem falar nas quadrilhas e forrós.
Santo Antônio, o santo casamenteiro
A primeira das festas do ciclo junino é a de Santo Antônio. Nascido em Lisboa em 1195, passou a maior parte da sua vida em Pádua, na Itália. Conta a história que ele ajudava as moças pobres a conseguirem um dote e um enxoval para que pudessem encontrar um marido.
Certa vez, em Nápoles, havia uma moça cuja família não podia bancar seu dote para casar. Desesperada, a jovem ajoelhou-se em frente a uma imagem de Santo Antônio e pediu com muita fé que ele a ajudasse. Milagre ou destino, ela encontrou um bilhete de um comerciante que dizia recompensar com moedas de prata. E foi isso o que ocorreu: ela recebeu as moedas e pôde se casar conforme o costume da época.
Embora sua fama seja de "santo casamenteiro", Santo Antônio é considerado um santo das causas militares em Portugal.
Aqui no Brasil, ele é bastante popular. Inúmeras prestações de homenagem ao santo são vistas em nomes de pessoas, praças, igrejas e localidades. Não é por coincidência que o Dia dos Namorados seja comemorado na véspera do Dia de Santo Antônio, ao menos aqui no Brasil e ao contrário de outros países, que comemoram essa data no dia 14 de fevereiro, dia de São Valentim. Para que sejam atendidos os pedidos de casamento, surgiram diversas crenças e simpatias para incentivar Santo Antônio. O bolo de Santo Antônio é tradicional nas igrejas católicas que distribuem aos fiéis que querem fugir da vida de solteiro.
São João e as festas joaninas
Conta a história que, João, filho de Isabel e prima de Maria, mãe de Jesus, nasceu no dia 24 de junho. Nesse dia, Isabel pediu para levantar um mastro iluminado por uma fogueira em sua volta para anunciar à Maria o nascimento do seu filho. João ficou conhecido como "João Batista" por ter batizado inúmeros judeus (e, mais tarde, o próprio Jesus) nas primeiras décadas da era cristã, mediante confissão dos pecados e banho no rio Jordão. É considerado o profeta que anunciou a vinda de Cristo.
Por sua história, São João é o principal santo comemorado nas festas juninas. Virou sinônimo da própria festa, pois muita gente sai para "comemorar o São João". No início, a Igreja denominava esses festejos de "festas joaninas", festas em celebração ao São João. Devido ao mês de sua celebração, em pouco tempo as “festas joaninas” viraram "festas juninas".
O santo também é conhecido também como protetor dos casados e enfermos, São João é celebrado, principalmente nas cidades da região Nordeste do Brasil. A sua fé pode ser comprovada nas inúmeras cidades com o seu topônimo (54 cidades em todo o Brasil, segundo o IBGE), nos nomes das pessoas e nas diversas crenças em torno do santo. Reza a tradição que a fogueira de São João deve ter a forma de uma pirâmide com a base arredondada.
São Pedro, é fim de festa
O guardião das chaves do céu e responsável pelas chuvas, São Pedro é também conhecido como o protetor das viúvas e dos pescadores. Segundo a Bíblia, seu nome original era Simão. Por muito tempo, ele viveu como pescador até que João pediu para que fizesse parte do grupo mais próximo de seguidores de Jesus Cristo. Logo, ele acabou se tornando um dos apóstolos e, por causa de sua liderança firme, Jesus deu-lhe o nome de Pedro (que significa "rocha").
Comemora-se o dia de São Pedro em 29 de junho. Tradicionalmente, é quando acabam os festejos juninos - embora nos dias atuais esteja se tornando comum as festas "julinas", que atravessam o mês de julho. É nesse dia que há a brincadeira do roubo do mastro de São João, que só é devolvido no próximo fim de semana. Outro costume: se alguém prender uma fita num homem chamado Pedro, essa pessoa deve dar um presente ou pagar uma bebida àquele que o amarrou. A fogueira de São Pedro sempre tem formato triangular. (Formas&Meios / Biblioteca visual)