ESTREIA– “O Presidente”, uma fábula política de Mohsen Makhmalbaf
“O Presidente”, filme do iraniano Mohsen Makhmalbaf, tece uma parábola política repleta de boa vontade, embora às vezes ingênua.
O filme começa com um envelhecido ditador (interpretado pelo georgiano Mikheil Gomiashvili) de um país sem nome mostrando ao seu pequeno neto (Dachi Orvelashvilli) o que é o poder. Ao seu gosto, manda ligar e desligar a energia elétrica da cidade, deixando toda a população no escuro simplesmente para mostrar que pode. A partir de um único gesto, se diz muito. Ele pode tudo, quando bem quiser.
Mas, quando pede para a energia ser religada, isso não acontece: a Revolução chegou! Tratado por todos como Sua Majestade, ele então obriga toda sua família a fugir, mas o neto se recusa, pois os dois são muito apegados. Simbolicamente, o menino funciona como a materialização do infantilismo que governa os mandos e desmandos do ditador.
Mohsen Makhmalbaf, de algum modo assinando o roteiro com sua mulher, a cineasta Marziyeh Meshkiny, que faz de “O Presidente” uma alegoria. Porém, é um filme didático, cheio de boas intenções, mas exagerado em seus ensinamentos e sua pouca sutileza. Sua mensagem sobre a corrupção do poder e, especialmente, da tirania é necessária, mas óbvia. Assim como o modo como ele retrata a Revolução: haverá um inevitável derramamento de sangue promovido por um povo oprimido e traumatizado.
As crianças são presenças constantes na obra deste iraniano, entretanto, o menino em destaque acaba soando mais como um pretexto para fazer questionamentos simples exemplo O que é tortura?, O que é morte? A presença deste menino não vai além das perguntas. Assim, “O Presidente” esvazia-se de seu promissor potencial crítico mostrado no início. (Francisco Martins\AgênciaFM).