“Jogo do Dinheiro”, traz George Clooney e Julia Roberts, satiriza mundo dos investimentos nos EUA. Não tem nada de novo sobre o assunto, apenas é contado de forma cômica. Pela atuação dos dois vale o ingresso.
Roberts e Clooney em Cannes Cannes para divulgar |
Dirigido por Jodie Foster, “Jogo do Dinheiro” George Clooney é Lee Gates, uma espécie de animador de auditório com economista que apresenta um programa na televisão no qual dá dicas de investimentos. O personagem é inspirado numa figural real, Jim Cramer, do canal CNBC, e não tem senso do ridículo.
O longa começa como uma sátira a esse tipo de programa televisivo, capaz de espetacularizar tudo, e essa é uma questão que jamais sairá do horizonte, especialmente quando Kyle Budwell (Jack O'Connell) invade o estúdio com uma arma e coloca um colete com uma bomba em Gates. Se o rapaz acionar o detonador, o estúdio todo explode.
Não custa muito e o circo está armado. A diretora do programa, Patty Fenn (Julia Roberts), está preocupada com a vida do colega – que para ela, com razão, é um sujeito narcisista e arrogante – mas também com os índices de audiência que foram para a estratosfera. Não há nada de novo em “Jogo do Dinheiro” sobre a ganância das grandes corporações ou a devassidão da mídia, mas, ao contrário do supervalorizado “A Grande Aposta”, o filme não quer ensinar nada e, talvez por isso mesmo, faz um comentário bem mais ácido, especialmente por meio da comédia. ***(Francisco Martins) .
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“O Botão de Pérola” resgata história do Chile a partir de sua fronteira
“O Botão de Pérola”, que forma um díptico com seu filme anterior, “Nostalgia da Luz” (2010). Ganhador do prêmio de roteiro e do ecumênico, no Festival de Berlim de 2015, o longa resgata a história de seu país a partir de sua maior fronteira com a água, que são quase 6,5 mil quilômetros.
Diretor Patrício Guzmán |
Seguindo a mesma estrutura do filme anterior, aqui Guzmán começa com uma investigação metafísica, quase onírica, de linguagem poética combinando história e ciências naturais. Mas não se engane: o interesse do documentarista sempre foi e será a história sangrenta dos anos da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), e isso irá se materializar na segunda parte do longa.
Combinando depoimentos de descendentes com as fotografias do padre e etnólogo alemão Martin Gusinde, o documentário resgata esse tempo que irá encontrar um encerramento simbólico na figura de Jemmy Button, que no século 18 foi levado para a Inglaterra, europeizado, e quando voltou para o Chile não se encontrou mais como nativo, mas também não podia ser inglês.
Aos poucos, Patrício Guzmán, que no currículo tem a trilogia monumental “A Batalha do Chile” (1975-1979), entra na história sangrenta do país, criando-se assim um diálogo entre o etéreo (a partir de suas divagações sobre a água) com imagens poderosas de geleiras, entre outras coisas, e o material histórico (a ditadura militar no país).
O resultado transita entre o belo das imagens unidas à poesia do texto narrado pelo próprio diretor e a crueldade dos anos de chumbo chilenos –quando os corpos das vítimas dos militares eram jogados no oceanos presos a um pedaço de trilho de trem para que afundassem e não submergissem mais. ***