Nessa história trágico-erótica Sir Kreubber Krigger Grugger se utiliza de personagens reais e fictícios assim como em todos os contos de sua autoria. No caso Hellen: a filha do capetão e respectivas personagens: Olga, Hellen, Dr. J. Carvalho, Dr. Raul, Edson, são todos verídicos. Aos poucos ele vai dando a proporção fictícia merecida a cada personagem. Nessa conto, ele realça o poder das palavras ditas sem pensar. Aproveite esta segunda história do mestre K.K.K.
Zilda Maria prefere ser chamada de Olga. Mãe de um filho, Edson, havia algum tempo tentando engravidar, preferencialmente de uma menina. Por duas vezes engravidou mas aconteceram dois abortos espontâneos. Morena bonita, Olga, não se dava por vencida. "Faço qualquer coisa para ter uma menina", afirmava aos amigos. Muitas sugestões entre as quais a adoção de uma menina foram apontadas como solução. Porém, ela queria uma filha biológica, apesar de beber, fumar e outros atos.
Olga não era mais uma mocinha. Seu único filho já estava com 23 anos e ela com 48 anos. Com a aproximação de meio século de vida ela encontrava-se ainda mais desesperada para realizar seu propósito, ter uma menina. Era uma assídua frequentadora de bailes, então, dobrou o interesse pelos eventos dançantes da região do ABC, grande São Paulo. Quintas, sextas-feiras e domingos ninguém a pegava em casa depois das 19h00. No salão, ela vislumbrava quais daqueles homens poderia ser o pai de sua filha, cujo nome seria Hellen. Não se importava se homem branco, preto ou amarelo ela queria mesmo era realizar sua vontade. Certa noite, dia 24/02/ 1980, ao pegar seu carro e seguir para o baile, o carro a deixara na mão tendo de recorrer a um táxi, o fez então. Um homem alto e bonito aparentando 35 anos, cor de jambo e olhos cor de mel, todos esses atributos mexeram com o coração e a imaginação de Olga. Cortez, ele abriu a porta de trás do carro, mas, ela pediu para ir no banco da frente. Prontamente foi atendida. A corrida era um 'pescoço', ou seja, curta na gíria dos taxistas -, começava no Parque Erasmo e seguia até ao Bangu, bairros de Santo André. Na cabeça dela, faziam mais de duas horas que rodavam em locais jamais vistos na região. Ela perguntou se ele conhecia o local do evento e o motorista disse: afirmativo, conheço sim senhora. Qual seu nome? Perguntou Olga ao motorista apenas para preencher o tempo. Antes não tivesse feito tal pergunta. O motorista não hesitou e respondeu com grande ênfase, Lou Cifer madama, Lou Cifer.
Força da palavra
A partir dai Lou começou a entrar nos mais profundos segredos de Olga em uma espécie de interrogatório; dona Olga é verdade que fará qualquer coisa para ter uma menina? A senhora vai ao baile atrás de um homem para gerar essa filha? Por que o seu marido a deixou ao ir comprar um maço de cigarros?. Seguiram outras perguntas do mesmo gênero. Olga, quase paralisada respondeu a todas as perguntas, e mostrou interesse por aquela de ter uma filha a qualquer custo. Foi a vez dela perguntar ao motorista como ele sabia tanto de sua vida. Simples, dona Rosa, eu atendo sempre que sou chamado. Como assim? Indagou Olga, já sentindo calafrios por todo o corpo. Posso chamá-la de você? Claro que sim, respondeu Olga ao motorista. Repita por favor frase que dissestes ao Dr. Raul no baile da Pirelli. Sim, "para ter uma filha eu transaria até com o diabo", foi isso mesmo o que eu disse afirmou Olga. Nesse momento o táxi foi tomado por luzes avermelhadas e amareladas que piscavam intermitentemente. Parecia que eles estavam em uma casa sobre rodas. "Posso ir até ao toilet" pediu Olga. Sim, você pode, disse Lou Cifer em tom sedutor. Quando chegou ao toilet, duas moças a pegaram tiraram-lhe a roupa e puseram-lhe uma lingerie verde transparente. Senhora, volte imediatamente ao cômodo nupcial", disseram as assessoras de Lou Cifer.
Diabo virgem
Quando Olga retornou e viu uma linda cama giratória toda coberta com cetim, e nela, estava um outro homem, e não o que dirigia o táxi. Indagou, onde está o motoristas? Ouviu apenas sua voz, já fiz minha parte madama. Ela se recusou a se deitar com aquele homem cujo jamais havia trocado uma só palavra. Quem é você, não vejo sua cara? Só vejo seu corpo nú - e que corpo -, pensou. Quando pensou, já obteve a resposta: sim, é muito cobiçado. Foi o mesmo usado para satisfazer Dorian Gray. Mostre-me seu rosto e dentes por favor, pediu Olga. Vou atender mais esse seu pedido. Sente-se aqui, ordenou. Eu tenho vários nomes entre eles Kái Faz, muito prazer em servi-la. Ao falar isso o cobertor iluminou-se, transparecendo a silhueta de um sorriso amarelo pelo ouro em sua boca. É uma menina de nome Hellen o que você quer? Sim, por favor, em nome de Deus me ajude, implorou Olga. Ah! você conhece Deus e ele não atendeu seu pedido. Ele é muito poderoso ! desdenhou. Não foi a noite de amor que Olga imaginava para conceber sua tão desejada filha. Quando ela deitou-se na cama, aquele corpo belo e másculo flutuou e passou a lhe explicar: eu sou inatingível, intocado, virgem. Deite-se ai mulher, mandou. Olga deitou-se e começou o procedimento de fertilização. Kái Faz pegou um pênis em forma de parafuso de maneira que o rosqueava ia penetrando. Em alguns minutos ela estava fecundada pelo diabo. Foram minutos inexplicáveis para ela que acordou com uma voz em seu ouvido esquerdo: “Está tudo consumado”. O táxi parou bem em frente ao local do baile e ela entrou. Não olhava mais com o mesmo interesse para os homens de lá. Ao contrário, sentia náuseas ao vê-los. Voltou para casa, e logo encontrou um cartão postal com a fotografia de uma sorridente criança, porém, em uma cadeira de rodas.
Dentes de serrote
Olga passou sentir os sintomas da gravidez e conforme se aproximava o nascimento de Hellen, as noites eram perturbadoras, pontuadas por pesadelos. Orgulhosa, passou a exibir o barrigão no bairro e nos bailes. No sétimo mês, quando estava em uma missa na Igreja do Carmo, a matriz, no centro de Santo André, sentiu as dores do parto. Mas, antes teve uma visão vinda do altar: o padre que fazia o sermão, como em um efeito especial, foi substituído por um rapaz de quase 33 anos, de cabelos e barbas compridos que disse: eu fiz tudo para evitar essa gravidez. Ela foi levada ao hospital mais próximo onde deu à luz uma menina totalmente estropiada e já com um dente na frente. Tinha todos os membros, inferiores e superiores, mas tinha aparência de uma bola de carne com pernas e braços. Hellen, cresceu cercada de carinho e cuidado. Foi levada aos melhores consultórios e entidades especializadas no tratamento de crianças defeituosas sem nenhum sucesso. Eram muitas as evidências de que Hellen tinha um mistério muito maior do que apenas uma tetraplégica. Uma vez, ao ser levada a tomar uma injeção, manifestou-se algo estranho: o líquido injetado no lado de fora do magérrimo braço escorria na parte de dentro, perto das axilas. O tempo passava e Hellen não crescia, a única coisa em Hellen que chamava atenção de todos era o largo sorriso, apesar dos dentes serem em forma de dentes de um serrote. Ela nunca saiu da mesma cadeirinha infantil comprada quando tinha 1 ano de idade. Não era preciso, ela não crescia e isso facilitava levá-la para passear. O alimento dela era apenas sopas ou papinhas feitas por sua mãe ou pelo irmão Edson. Quando completou 13 anos ganhou uma bonita festa onde ela distribuía sorrisos a cada um dos convidados, que por sua vez tentavam disfarçar a surpresa quanto ao formato de seus dentes. A festa de aniversário terminou por volta das 3 horas da madrugada, e Hellen não fechou os olhos um minuto. Acompanhava todos e tudo o que se movimentava. Era como se estivesse entendendo tudo o que se passava e o que se falava. Uma atenção especial, a adoração por arma branca, quando percebia alguém manusear uma faca arregalava os olhos e abria um sorriso com seus dentes de serrote.
Filha n* 666.666
A festa não era em vão, claro. Na última vez que Olga tinha levado Hellen ao médico, foi exatamente ao Dr. Raul Obaid, para quem havia declarado “ faço sexo até com o diabo para conseguir ter uma menina”. Raul tinha descoberto o segredo de Hellen. Através de exames conseguiu mostrar que ela era totalmente vazia. Ou seja, não tinha fígado, coração, intestino etc. Hellen, era como se fosse uma boneca de plástico. No lugar do coração uma placa com inscrição: Filha n* 666.666. Olga teve um dos maiores sustos de sua vida, precisando de socorro imediato. Não sabia mais o que fazer e como agir com sua ‘filha’. Os anos se passavam e, estava próximo do 15* aniversário de Hellen que ainda estava do mesmo tamanho de uma criança de seis meses. Havia engordado e seus braços também cresceram, atingindo quase 40cm. Era 24 de fevereiro de 1994, um sábado de céu claro e sol ardente em plena 8h00. Olga estava sozinha em casa resolveu dormir um pouco mais. Ao acordar, por volta das 11h00, a beijou como de costume, Hellen dormia ao lado de sua cama -, e disse: mamãe vai fazer comidinha para você, tá filhinha”. Hellen, a encarou com olhos avermelhados quase saltando de sua face. Vestida com uma lingerie branca dirigiu-se ao fogão. De repente escutou passos atrás dela. É você Edson ! Não, não pode ser ele viajou para Rezende {Rio de Janeiro}. Continuou a mexer a papinha quando mais uma vez ouviu estalido atrás de si. Virou-se e viu Hellen planando no ar como um grande morcego. Em uma mão segurava uma faca e a outra planava. Olga bradou: Valha-me meu São Jorge! Isso feriu os ouvidos de Lou Cifer e de Hellen, que buscou ajuda no espírito de um médico J. Carvalho, que entrava em óbito naquele exato momento no hospital municipal de Santo André. Hellen, arregalou os olhos aumentou o tamanho de seu braço, usando o do médico, e avançou com a faca rumo ao pescoço de sua mãe Olga. Nesse exato momento, formou-se uma penumbra e dentro dela surgiu uma figura de aspecto divino que, com um feixe de luz blinda da cabeça até o peito de Olga onde a facada a mataria. A força imposta na faca era tanta que ao atingir a blindagem sobrenatural à veia do pescoço, voltou em forma de um raio de cor violeta contra Hellen que, ao ser atingida, aos poucos ia se derretendo, pingando como um plástico pegando fogo. Socorro mamãe! Não me deixe morrer, mamãe! Eu e o papai te amamos mamãe, venha ajudar sua filhinha!, gritava Hellen. {Foto: acervo Agência FM –técnica: fotografia sobre fotografia, spray, raspagem com bombril grosso}
Quanto ao médico utilizado por Hellen, ele teria feito um pacto com Dr. Raul Obaid {Diabo ao contrário}, e será um dos próximos contos de Sir K.K.K., Aguardem!