Rara produção e raro exemplar da cinematografia peruano que estreia no Brasil. Trata-se do drama político “A Passageira”, de Salvador del Solar, que remexe em fantasmas mal-sepultados da história recente daquele país.
Damián Alcázar e Magaly Solier, cena de “A Passageira” |
O protagonista é Magallanes (o mexicano Damián Alcázar), ex-soldado e participante da guerra suja, atuando, décadas atrás, no interior, em Ayacucho – onde militares combatiam a ferro e fogo a guerrilha do Sendero Luminoso, vitimando inúmeros camponeses inocentes no fogo cruzado por suposta colaboração com os guerrilheiros.
Pelo modo como é contada, a história expõe os crimes cometidos contra a moça – símbolo das populações civis e indígenas do interior peruano -, mas não deixa de contemplar a tragédia imposta aos seus perpetradores, como Magallanes, humanizando-o, sem absolvê-lo, nem aos seus cúmplices. Isto permite ao filme atingir uma riqueza dramática muito maior do que se se limitasse a uma evocação maniqueísta daqueles dias.
O filme tem vários acertos, outro acerto é o comando desta abordagem intimista para a revelação de bastidores obscuros da política peruana – que opera em chaves que qualquer latino-americano, brasileiro inclusive, é capaz de reconhecer com clareza. (Francisco Martins com Agências internacionais).